Nos toscos degraus da porta
De igreja rústica e antiga,
Velha trémula e mendiga
Implorava compaixão.
Quase um século contado
De atribulada existência,
Ei-la enferma e na indigência,
Que à piedade estende a mão.
Duas crianças brincavam
À distância, na alameda;
Uma trajada de seda,
Da outra humilde era o trajar.
Uma era rica, outra pobre,
Ambas loiras e formosas,
Nas faces a cor das rosas,
Nos olhos o azul do ar.
A rica, ao deixar os jogos,
Vencida pelo cansaço,
Viu a mendiga – e ao regaço
Uma esmola lhe lançou.
Ela recebe-a; e a criança,
Que a socorre compassiva,
Em prece fervente e viva,
Aos anjos encomendou.
De um ligeiro sentimento
De vaidade possuída,
À criança mal vestida
Disse a do rico trajar:
- «O prazer de dar esmolas
A ti e aos teus não é dado;
Pobre como és, coitado,
Aos pobres o que hás-de dar?»
Então a criança pobre,
Sem más sombras de desgosto,
Tendo o sorriso no rosto,
Da igreja se aproximou;
E após, serena, em silêncio,
Ao chegar junto da velha,
Descobrindo-se, ajoelha,
E a magra mão lhe beijou.
E a mendiga alvoroçada,
Ao colo os braços lhe lança,
E beija a pobre criança,
Chorando de comoção!
É assim que a caridade
Do pobre ao pobre consola;
Nem só da mão sai a esmola,
Sai também do coração.
JÚLIO DINIS
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Lindo!
ResponderEliminarLindo!
ResponderEliminarcomovente, por lembrar que a caridade é um ato de amor. Esmola destituída de solidariedade e empatia não conforta, nem mitiga a dor.
ResponderEliminarÉ verdade. Como diria S. Paulo a maior de todas as virtudes é o Amor.
ResponderEliminarhttp://josemariaalves.blogspot.pt/2010/06/cantico-do-amor-s-paulo.html
Abraço.
JMA
A esmola é um ato de amor que fazemos a quem encontramos.
ResponderEliminarA caridade é um acto de Amor. E quem vive sem Amor já está morto em vida.
ResponderEliminarComo cantou o Apóstolo:
Ainda que eu fale
a língua de homens,
anjos e arcanjos,
serafins ou querubins,
se amor não tiver
serei como o bronze
que soa
ou o címbalo
que ecoa.
Ainda que tenha
o dom de profecia,
domine o saltério
e conheça tudo
o que é mistério,
enigmas,
ciências,
filosofias,
teologias,
se amor não tiver
nada serei.
Ainda que a minha santa fé
mova todas as montanhas da terra,
se mostre às criaturas penitente,
encante feras
e seja assombro de animais e gente,
se não tiver amor
nada sou.
ainda que entregue
todos os meus bens
aos pobres e desvalidos
e meu pobre corpo
confie à fogueira
em arroubo desmedido,
se não tiver amor
de nada me valerá.
O amor é paciência,
o amor é prestante,
maravilhoso e excelente.
Não é invejoso,
nem arrogante
nem orgulhoso.
Nada faz de abusivo.
Gratuito e excelso,
admirável e portentoso,
não busca conveniência,
não se agasta,
não se ofende,
nem se ressente
e desobriga a penitência.
É inocente,
não nasce nem morre,
eterno e omnipresente.
Não sabe quem ama,
porque ama,
nem o que é amar.
Não exulta perante a injustiça,
odeia a iniquidade,
mas
rejubila com a verdade.
Tudo desculpa,
tudo entende,
tudo aguarda,
tudo suporta.
O amor não passará jamais.
As profecias terão o seu fim,
assim como os profetas.
A ciência será inútil
como os homens de ciência.
As filosofias palha ardente
como os filósofos.
o amor não findará jamais.
Como o nosso conhecimento
imperfeito e degradado
do que é perfeito e ausente,
um dia
o que é perfeito
virá
e aí
o imperfeito
desaparecerá.
Oh amor que tardas
e que minha alma
de amor matas.
Quando criança,
falava como criança,
pensava como criança.
Homem,
abandonei as coisas da criança,
a dança das fantasias e ilusões.
Vejo como num espelho
a imagem imperfeita
aguardando o tempo
em que face a face verei
o amor que deleita.
Ainda conheço
de forma imperfeita,
em alma impura,
mas breve,
conhecerei na altura
como conhecido
pelo amor sou.
E se três coisas permanecem,
a fé a esperança e o amor,
louvor a ti senhor
que a maior de todas é o amor.
Oh amor que tardas
e que minha alma
de amor matas.
Louvor a ti Senhor.
Versão JMA