IRIS HALMSHAW

IRIS HALMSHAW
IRIS HALMSHAW - a genialidade de uma criança

sábado, 17 de agosto de 2013

O MEDO DAS SOMBRAS - AFONSO DUARTE





Rondam sombras pelas telhas:
não é vento, são andanças
de bruxas! As bruxas velhas
chupam o sangue às crianças.

A mãe dorme, a filha ao pé,
em casa de telha vã
onde nem há chaminé;

e de interiores deserta
é toda uma casa aberta
à chuva e sol da manhã.

E a filha diz para a mãe,
como a mãe responde à filha,
porque este drama não tem
a mais do que mãe e filha:

- Mãezinha, que é, que é?

- Não luz vidro no soalho,
nem há luz de tição;
está a gatinha ao borralho.

Oh! dorme, meu coração,
susto, filha, não te dê:
a água do bebedouro
espelha luz que se vê.

Longe vá o mau agouro,
benza-me a luz que nos olha:
quem não existe não é.

O pucarinho de folha
lá está no mesmo pé.

- Pela telha destelhada,
minha mãe, minha mãezinha,
voar negro de andorinha
com risos de gargalhada!

- Água de bica, lá fora,
corre, corre, que se chora:
filha minha, não tens sede?

- Como peixinhos na rede,
sombras, ó mãe, na parede!

- Não é nada, não é nada:
buraco da fechadura,
em rosa de luz coada
será a luz da madrugada
que vem em nossa procura.

AFONSO DUARTE



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